quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A Fuga



Não agüento mais, preciso sair daqui. Estou farto de obedecer às ordens do soberano e aos caprichos de sua esposa. Já não suporto nem a pequena Margarida. Chega de anões, bufões, servos, damas de companhia e bajuladores. Sem contar o cão pulguento, que jamais tomou banho. É como se minha vida estivesse estagnada há séculos. Cansei de ver e ser visto, tenho que fugir. A porta dos fundos é sempre vigiada, então sairei pela frente. O plano é roubar a alma de um admirador.

Hum... que tal esse homem negro? Boa aparência, barba feita, inteligente, chefe de família... ah, não, está metido com política. E o pior é que tem carisma. Já pensou se vira presidente? De jeito nenhum, sou um servo da arte, não quero essa vida. E nem sei falar inglês. Quer saber? É melhor procurar outro.

Opa, parece que esse aí gostou de mim. Boa aparência, cheiroso, barba aparada, inteligente, cabelos grisalhos, nem velho, nem moleque. Que interessante, ele vem de longe e fala português, igualzinho a meu avô. E ganha a vida escrevendo. Ótimo, preciso parar de respirar tanta tinta. Parece que ele vai montar um curso para jovens escritores. Caso eu não me adapte ao dia-a-dia do mestre, posso depois roubar a alma de um aluno. Será que algum deles saberá pintar?


Exercício proposto por Bruno Cobbi, intitulado Roubando Almas.
Inspirado na obra As Meninas, de Diego Velázquez (1599-1660)

Veja também: Sonhos, de Sady Folch, Andarilho Voador, de Bruno Cobbi, Abissais, de Olga Vallejo, Um cavaleiro garboso, de Terezinha Carvalho, Viajando desde Ivanikha, de Claudia Finamore e A psicóloga roubada, de Patricia Cytrynowicz -- textos em resposta ao mesmo exercício.
Confira ainda o mapa da aventura.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Fim de Fita-Verde


Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas.


Podia ser qualquer dia, mas que nada. Não havia lenhadores, nem polícia civil ou militar. Todos em batalha, nos arredores do palácio, sob olhares esbugalhados de quem devia estar prefeito, mas sonhava com a faixa verde-amarela.

Foi aí que bandidos e lobos tiraram proveito. Antes mesmo de ver vovozinha, a sombra da menina sumiu no pó. Sua fita verde imaginada caiu, e não foi encontrada nunca mais. Igualzinho para sempre, só que tudo ao contrário. Melhor nem contar.

História triste, que cala quem escuta. Nada de que nem e eu então. Só soluço e lágrima.


Baseado em Fita Verde no Cabelo, de Guimarães Rosa
Confira também: Polícia Civil x Militar e quem devia estar prefeito, mas sonha com a faixa verde-amarela
E mais: Tosca Fita

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Mensagem

Vamos, moribundo, não temos muito tempo. Levanta logo da cama. Tem lápis e papel no criado-mudo. Escreve exatamente o que eu disser. Isso, velho, segura firme. Vou ditar. Está pronto? Muito bem, anota aí.



... morrer! O que foi, velho imbecil? Parou de anotar por quê? Escreve logo, MORRER. Tem medo? Que diferença faz? Tá nas últimas mesmo... Já sei, preocupado com os netos, que nunca vão crescer. Que idiota, veja o lado positivo; pode reencontrá-los mais cedo do que imaginava. Aliás, sua mãe, aquela vagabunda, já tá te esperando... Velho improdutivo e acomodado, acha mesmo que sua vida valeu a pena? Vai, faz algo útil, escreve: MORRER.



... velho cretino! Apague essa droga... Vê agora se faz direito. Continue.



... uma...... o quê? Idiota, ainda não, acorda! Vamos, acorda! Droga, desencarnou. Vou precisar de outro imbecil. Ei, velho, tá indo pro lado errado. Volta aqui, cretino. Teu lugar agora é comigo.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Peso da Vida

(exercício proposto por João Cunha, aluno do Curso de Formação para Escritores, baseado no filme 21 Gramas. Tema: o peso da vida. Tamanho: 10 linhas)

– O tiroteio nos atingiu, estamos perdendo combustível – informou o piloto. – A alternativa é jogar fora tudo que for excesso.

O casal não perdeu tempo e atirou malas e equipamentos ao mar.

– Sinto muito, mas ainda não dá. Talvez com 50 kg a menos...

Inconformado, o marido confirmou nos marcadores do helicóptero o diagnóstico do piloto. Então desanimou, tomado por uma culpa de 140 kg. Minha gordura matará todos nós, pensou. Cogitou pular, mas faltava coragem. Se ao menos nadasse como a esposa...

Foi quando ela passou o bebê para seu colo, beijando os dois com serenidade:

– Amo vocês – e jogou-se ao mar.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Última Pílula

Não adiantava avisar:

– Cuidado, vó. Desse jeito, a senhora pode quebrar o pescoço.

Ela não ouvia. Separava as pílulas com o prazer de quem distribui dinheiro aos filhos. “Esta é para a memória, esta para a garganta, para o coração, o esôfago, fígado...”. Deixava-as todas enfileiradas, por ordem de localidade corpórea. Acreditava que, quanto mais próximo da boca estivesse o aparelho enfermo, mais rápido o medicamento fazia efeito.

Com tudo preparado, polegar e indicador pinçavam as bolinhas para deitá-las com requinte em língua esplêndida. Uma por vez. Só que o esmero terminava aí. De repente vinha um impulso desproporcional da cabeça, que ricocheteava para trás. O gole curto de água à temperatura ambiente lubrificava a garganta para a pílula seguinte.

– Vó, assim a senhora pode quebrar o pescoço. Não basta engolir?

Ela não escutava – e isso nada tinha a ver com o ouvido direito, quase surdo. “Assim desce mais fácil”, pensava com convicção. E dava um impulso atrás do outro transformando o cérebro num chocalho. Eu ficava de prontidão, sempre temendo pelo pior. Só não imaginava que o desfecho pudesse ser tão trágico.

Foi naquela tarde – para tristeza de filhos, netos e bisnetos – que o ritual das bolinhas se repetiu pela última vez. Após seguidos ricochetes, vovó chegava à pílula derradeira – a para unha encravada. Parece até que já esperava por algo, pois hesitou ao trazer o remédio à boca. Deve ter se lembrado de amores perdidos, de trabalhos não realizados, de viagens nunca feitas. A vida inteira que podia ter sido e que não foi.

A bolinha já estava sobre a língua úmida, quando veio o impulso fatídico. De olhos fechados, vovó jogou a cabeça para trás com tamanha força que ela se desprendeu do pescoço e alçou vôo. Deu três voltas no ar e caiu pesada, ouvido surdo para cima. Sons não importavam mais, e os olhos ainda gritaram por socorro quando viram o corpo sem cabeça pela primeira e última vez. O respiro final jamais oxigenaria o tronco. Tampouco a última pílula atingiria a extremidade do membro mais distante. A unha encravada de vovó estava condenada a doer pela eternidade.

(Frases ou idéias semelhantes a obras já publicadas não são meras coincidências. Este é um exercício de plágio criativo, desenvolvido no Curso para Formação de Escritores)

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Sarau Cultural

É sábado, pessoal! Até lá!!!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Impressão

A conversa se deu hoje, na hora do almoço. Meu irmão chato foi testemunha e me contou. Julguei merecedora de um destaque.

...

Com o cigarro à mão, a morena desabafava com a colega. “É muita pressão na minha vida. Pressão no trabalho, pressão no casamento, pressão na faculdade...”

É verdade, a moça tem razão, e presto minha solidariedade a ela. É muita pressão. Pressão atmosférica, arterial, venosa, osmótica, estática, hidrostática, dinâmica, capilar, de vapor, de degenerescência...

Vivemos marcados sob pressão. Sofremos depressão, opressão, repressão, supressão, compressão, descompressão, contrapressão... O coração petrifica, perdemos a liberdade e a expressão da face.

A desopressão só vem com a morte.

Por isso, moça preciosa e pressionada, não desanime. A vida é mesmo uma panela de pressão.

(texto inexpressivo, disponível para pré-impressão, impressão ou reimpressão, por impressora plana, rotativa, digital ou mesmo comum, daquelas que temos em casa com cartucho recarregável)


quarta-feira, 4 de junho de 2008

Arraiá da Nossa Casa

Galera, a festa junina da ABCD Nossa Casa é no sábado, 7 de junho.
Abraço a todos e até lá!

O quê: Arraiá da Nossa Casa
Quando: 07/06/2008 (sábado)
Horário: das 15h às 21h
Onde: Rua Dr. Paulo Vieira, 246 - Perdizes (perto da estação Vila Madalena)
Para quê: Para se divertir e ajudar as crianças da ABCD Nossa Casa
Entrada: Franca

Para quem quiser conhecer mais sobre a associação e seus projetos educacionais, acesse www.abcdnossacasa.org.br.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O Troco

Comprar pão todas as manhãs era um fardo. Marta não tinha folga nem nos finais de semana, mas aceitava sua responsabilidade só para não ouvir as reclamações do marido.

Mas aquele domingo era diferente, e ela saiu da cama mais cedo. Escovou os dentes e vestiu-se em silêncio. Antes de encostar a porta do quarto, lançou um olhar penetrante sobre Carlos, que roncava esparramado no colchão.

Tomou a rua decidida e, com passadas firmes, chegou em menos de 15 minutos à padaria. Não a de sempre, mas uma concorrente, para não ser reconhecida. Pediu quatro pãezinhos, pegou um litro de leite e foi direto ao caixa. Enquanto o atendente registrava os valores, acrescentou um chocolate às compras.

– São quatro reais e quarenta centavos – informou o rapaz.

Marta não hesitou. Tinha planejado tudo durante semanas. Enfiou a mão no bolso direito e tirou uma moeda.

Tão logo sentiu o peso do pagamento, o atendente recolheu a mão esquerda para perto dos olhos. Mas que diacho é isso? – pensou. A dona-de-casa percebeu a expressão descrente do rapaz, mas disfarçou com um bocejo.

Ele então reexaminou a moeda e concluiu: aquilo só podia ser falso.

– Já sei – sorriu com ar de inteligente. – É pegadinha, não é? Pronto, já descobri, pode chamar o cinegrafista.

– Pegadinha de quê, garoto? – retrucou a mulher.

– Senhora... – prosseguiu o rapaz. – Não tenho vocação para palhaço. Por favor, são quatro reais e quarenta centavos.

– Sim, eu já ouvi – disse Marta. – Pegue logo esse dinheiro e me dê o troco. Vamos rápido. Meu marido vai surtar caso eu não traga logo o café da manhã.

O rapaz observou novamente o tal dinheiro – bem a contragosto. Ao perceber o crescimento da fila, ficou impaciente. Entregou a moeda à cliente e disse nervoso:

– Serei obrigado a chamar o seu Roberto, minha senhora.

Ela concordou:

– Ótimo. Não quero mais perder tempo com você.

Os fregueses já começavam a reclamar quando Roberto, dono do estabelecimento, chegou acompanhado do garoto. Ciente do impasse, foi direto ao assunto.

– Bom dia, senhora. Posso ver a moeda? – perguntou.

– Claro, aqui está. Espero que resolvamos isso rápido, meu marido aguarda por mim.

Roberto segurou o objeto e ficou impressionado. Maior que uma moeda comum e bem mais pesada, a peça trazia a figura de um índio observando a chegada da caravela. Terra e mar estavam representados por um adorno de penas e uma rosa dos ventos. Acima, havia a inscrição reveladora: “5 REAIS”. O dono nem precisou examinar o outro lado da peça.

– Jonas, aceite – ordenou.

– Mas, senhor, isso não é dinheiro – retrucou o atendente.

– Tanto faz. É de prata, veja. Deve valer até mais que cinco reais.

O rapaz concordou, enquanto via seu reflexo deprimido na moeda. Quis guardá-la na caixa registradora, mas o gerente preferiu levá-la consigo. Ainda irritado com a confusão, Jonas entregou sessenta centavos à dona-de-casa, desejando que ela nunca mais aparecesse por ali.

Marta recebeu o troco com um sorriso disfarçado. Seu olhar acentuava a satisfação que sentia. Já podia até imaginar o marido mastigando o pãozinho comprado com uma moeda rara de sua coleção. É capaz de ele engasgar, ironizou. Aquela maldita coleção de moedas. Bem-feito! Quem sabe agora esse infeliz me dá mais atenção.

Confira a foto da moeda no site do Banco Central do Brasil:
http://www.bcb.gov.br/htms/Mecir/mcomemor/MC500anos.asp?idpai=MOEDAREL

Conheça também o livro "Histórias que o Dinheiro Conta", de André Cintra e Renato Torelli:
http://www.lumuseditora.com.br/index.php?p=17

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Alrelho e Cecília

O jovem Alrelho se apaixonou por uma mulher mais culta. Só que, ao se declarar, pôs tudo a perder.

Confiram a canção “Alrelho e Cecília”, de Luiz Eduardo e Renato Torelli, gravada em 2001 pela banda Reverso Invertido. Divirtam-se, emocionem-se com o fim de um grande amor e tomem cuidado para jamais cometerem os mesmos erros de nosso protagonista.

Escute aqui a canção Alrelho e Cecília:
http://www.lumuseditora.com.br/wp-content/uploads/outside/Alrelho_e_Cecilia.wma

Alrelho e Cecília
(Luiz Eduardo/Renato Torelli)

Fazem três anos,
Foi há muito tempo atrás,
E eu ainda não se esqueci.
Eu vi ela,
Em frente do jardim,
Fiquei fora de si.
Haviam sonhos na cabeça da
menina,
Meia tímida sorriu pra mim.
Subi pra cima os degrais correndo,
Tinha chego nela enfim.

Hei, peteca!
Espera aí pra mim lhe conhecer.
Tu é muito linda
A nível de beleza,
Tenho certeza que quero você . . .
E onde vai tão bela assim? Será o fim!
Se eu lhe perder e não poder lhe rever
Outra vez! 1 – 2 – 3


Fazem três anos,
Foi há muito tempo atrás,
Lhe amava tanto porém lhe perdi.
Nunca mais vi ela,
Não me quis por causa que
A minha fala era meia ruim.
Que por mim ser de menor, com inguinorância maior,
Não haviam chances de me dizer sim.
Não fica triste, Alrelho,
Um dia desses o futuro vai vim.


Hei, Cecília!
Passou três anos, não lhe esqueci.
Meu português está mais melhor que o vosso,
A grosso modo falo até latim.
E pra lhe provar que sei escrever
Vem vim ler
A carta que lhe redigi pra você:


São Paulo, 1 de dezembro de 2000.

Sessília,

A nível de amor, eu lhe amo mais que ontem e menas vezes que todos os amanhãs.
Eu sei que tu tá meia confusa, mas me use e abusa! Namore comigo! Seje pra sempre minha amada !!!
Esteje meio dia e meio em frente da padaria para conversar. Poderemos comprar umas duzentas gramas de mortandela para mim fazê um lanche pra você quando chegarmos em casa. Tomaremos um chopps . . . Estará proibido a entrada de outras pessoas que não seje nós dois. Deixaremos o resto pra depois que decidir nossos caminho.
Com carinho de quem lhe prefere mais do que tudo,

Alrelho

(antes fosse mudo)

domingo, 4 de maio de 2008

Pintando o mundo

A caixinha de lápis de cor foi o presente perfeito para o seu sexto aniversário. Era a ferramenta que Marquinhos precisava para recriar o mundo ao seu jeito.


No dia seguinte, deu início à grande obra, pintando o sol de azul real e o céu de verde. A partir daquele instante, o poente começaria bandeira e terminaria musgo.

Já as nuvens ficaram lilás. E o arco-íris ia do preto ao branco, com tonalidades de cinza pelo interior.

O mar se transformou em amarelo-ouro, com montanhas alaranjadas. A brisa soprava vermelho e as matas rosearam, com rosas e todas as demais flores em verde, para combinarem com o céu.

Ao final do dia, Marquinhos olhou o novo mundo satisfeito. O serviço estava completo e perfeito.

Seu sorriso aumentou ainda mais quando ouviu o bater da porta. Era seu pai, que acabava de chegar do trabalho. Antes que Arnaldo pudesse afrouxar a gravata, Marquinhos pulou em seus braços, ávido por mostrar a obra-prima. O pai perdeu a cor:

– Credo, filho, que horror. Você pintou tudo errado. Benhêêê, temos que levar o menino ao médico. Talvez ele seja daltônico.

Marquinhos murchou.

– Eu só queria fazer diferente, papai.

A decepção do filho sensibilizou Arnaldo. Não precisava ter sido tão duro, pensou. Então se ajoelhou na altura de Marquinhos, pôs as mãos em seus ombros e, com serenidade, explicou:

Não pode, filho. O mundo é do jeito que é. Não podemos mudá-lo. Entendeu?

Com a cabeça, Marquinhos concordou. Tinha apenas seis anos e já era adulto.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Reverso Musical

Por se tratar de um blog experimental, Reverso Inverso também terá uma seção voltada para música, com dicas e comentários. O critério é simples e bem arbitrário: o gosto do autor deste blog, é claro.

Dessa forma, compositores como Noel Rosa, Raul Seixas, Zé Geraldo, Renato Russo, Pixinguinha e Celso Viáfora devem ter preferência. Em momentos de heresia, canções com participação de Renato Torelli também ganharão vez. Ainda haverá destaque para trabalhos atuais, como “Infinito de Pé”, de André Abujamra. A letra dessa música é daquelas que a gente ouve, ri e torce para que não acabe nunca.




O Infinito de Pé
André Abujamra

O infinito de pé são dois biscoitos
O infinito de pé é o número oito
O infinito de pé dois planetas colados
O infinito deitado um óculos quebrado

O infinito de pé duas bolas de sorvete
Um casal de namorado na moto com capacete
Boneco de neve, dois vinhos na adega
Farol de milha de noite quase cega

O infinito deitado olhos de coruja
Dois seres humanos fazendo amor
O infinito de pé é um autorama
Duas pulgas malabaristas no meu cobertor

O infinito deitado cano duplo de espingarda
São os raios de sol nos olhos da namorada
Dois salva-vidas à devida no oceano
É a linda cauda da baleia afundando

Oitocentos anos infinito lado a lado
Só que um está de pé e o outro deitado
Buraquinhos do nariz, as asas da borboleta
Dois irmãos gêmeos no carrinho de mãos dadas com chupeta

O infinito tá de pé o infinito tá (4x)

O infinito deitado janelinha de avião
É o símbolo da paz passarinho a minha mão
É o laço do cadarço para o tênis amarrar
É o beijo na sua boca para o amor alimentar

Ouro sem u e sem r
O infinito é o bigode do francês Pierre
Oco sem c ovo sem v
O infinito é o amor que eu sinto por você

Dois mil e um sem o dois e sem o um
O infinito é uma dupla de sushi de atum
É o reflexo do sol no mar
É a sinuca do bilhar

O infinito de pé é um brinde na taça
Dois buracos na cueca devorados pela traça
Os pneus da bicicleta subindo a ladeira
São os seios da Brigite pra fora da banheira

Dois cocos, duas laranjas, bola de gude bola de meia
O infinito é Jesus Cristo repartindo o pão para os apóstolos na Santa Ceia
Nem todo infinito tem forma pra mim
Einstein Rodchenko Picasso e Tom Jobim
O infinito tá de pé o infinito tá (4x)

O infinito é infinito
O infinito é o amor
O infinito nunca acaba porque nunca começou (2x)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Priest in Riverman



“Nuvens negras circundam o povoado de Riverman. O demônio Armand está infiltrado na cidade e prepara a ressurreição do mestre, o anjo caído Temozarela. Para isso, Armand e seus Zumbis devem exterminar a população local, sacrificando inocentes sempre que anoitece.
O pobre Xerife Mitchum já não sabe mais como evitar tantos crimes. Ele também perdeu o controle sobre os discípulos da Senhora Fergusson, que, toda manhã, enforcam um suspeito na busca pelos verdadeiros culpados.
A chance de sobrevivência do povoado está na ira do ex-padre Ivan Isaacs. Mas ele precisa agir rápido, antes que a pior face do mal triunfe – e a população de Riverman seja dizimada.”


Priest in Riverman é um jogo de raciocínio baseado no manhwa PRIEST – quadrinho coreano de Hyung Min-Woo. A Lumus Editora promove a brincadeira nos eventos de que participa, e a rapaziada quebra a cabeça bolando estratégias de sobrevivência. Para quem curte jogos dinâmicos e inteligentes, é diversão garantida.



Mais fotos dos eventos e do jogo no link

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Noite atípica

Dona Lurdes xingou o motorista do caminhão de lixo.
Seu Otávio pensou que teria um infarto.
Jorge gritou gol do Corinthians.
Para Luquinha, era o bicho-papão.
Rubens elogiou a potência do home theater.
Mariana enalteceu o desempenho do Marcão.
Fernando jurou largar a bebida.
Alice desejou mais drogas.
Pedro culpou o vizinho de cima.
Carlos pisoteou o inquilino de baixo.
Tavares temeu por um acidente aéreo.
Para Moreira, só podia ser um disco voador.
Roberto ligou a TV.
Maria desligou a máquina de lavar.
Luiz correu para sacar dinheiro.
Cíntia desceu as escadas de camisola.
Leonardo temeu pela queda na bolsa.
Clara largou a bolsa e abraçou os filhos.
Junior bateu palminhas.
Aninha não parava de chorar.
Joca deu um bofetão na esposa mentirosa.
Leandro correu para pegar o telescópio.
Hector viu as letras pularem do livro.
Rita tirou a roupa e pôs-se a gritar.
Mãe Joana benzeu a casa.
Felipe virou-se para o outro lado e dormiu.

Passado o susto, a diretoria do São Paulo acusa os palmeirenses de mais uma armação. Já o povo jura que os culpados são o pai e a madrasta de Isabella. Para o presidente Lula, nem um terremoto pode abalar a economia brasileira.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Luzzzzz

Vejo tudo no passado.
O Sol já se pôs, e passo oito minutos me despedindo dele.
Percebo a Lua um segundo e meio depois. E o que está em volta dela com diferença de milhões de anos.
Por mais que brilhem frente a mim, seus olhos também são pretérito.
Perfeitos.
E a voz é mais-que-perfeita.
O presente está no toque, no beijo, no sexo.

domingo, 20 de abril de 2008

A lenda da moeda falsa

Deu no Jornal Nacional de sexta-feira passada: para checar a autenticidade das moedas de um real, a população de Palmas (TO) recorre a ímãs. Segundo a crença – que já se espalhou por diversas cidades brasileiras – moedas sensíveis ao magnetismo são verdadeiras, já as demais são falsas.

Não é à toa que o ímã tenha se tornado utensílio obrigatório de "bons" estabelecimentos comerciais. O freguês paga, e o vendedor logo saca seu objeto mágico. O veredicto é rápido e às vezes constrangedor:

– Sua moeda é falsa, não posso aceitá-la.
– Mas, senhor, acabei de recebê-la do banco!
– Então a senhora foi enganada. Sinto muito.

Como Casa da Moeda e Banco Central pouco se pronunciam a respeito, a lenda ganha força até mesmo entre os mais esclarecidos. A repórter do JN, Graziela Guardiola, tentou explicar a confusão: “A diferença está na data de fabricação e no material usado: uma é de cobre, a outra é de aço.”

Os dois tipos de moeda são de fato verdadeiros, mas a repórter foi imprecisa ao discriminar as matérias-primas. O primeiro tipo, cunhado nos anos de 1998 e 1999, é feito de cuproníquel (borda amarela) e alpaca (miolo). Já o segundo, fabricado a partir de 2002, é constituído por aço inoxidável no centro e aço revestido de bronze ao redor. Esse, sim, é o tipo sensível ao ímã. Ele também é mais leve, menos espesso e mais dourado. Se cair no chão, faz “ting”, e não “teng”, como a moeda do modelo anterior.

Portanto, leitor do Reverso Inverso, nada de fazer vexame quando receber moedas de um real não magnetizadas. Só isso não caracteriza a falsificação. A mesma regra vale para as moedas de 50 centavos. E também não vá sair recusando moedas com valor facial de dois, três ou quatro reais. Não, não estou louco, elas também existem. Mas essa história fica para a semana que vem.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Super... mercado

Após preguiçosa tarde na praia, resolvemos pegar um cinema. No caminho, os amigos garantiram que a loirinha estava interessada em mim. Ela cursava Administração e era dois anos mais velha. Não fazia o meu estilo, mas a boa educação estabelecia ao menos uma conversa.

As iniciativas eram todas dela, e seu negócio – vender galões de água – virou assunto único. Quando o papo já provocava náuseas, um rumo ainda menos excitante foi tomado:

– Sabia que vão construir um shopping novo na região? – perguntou empolgada.

Forjando interesse, interagi:

- Outro? E há mercado para mais um shopping?

- Há, sim. O “Extra”.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Que por...

Por quê?
Porque sim.
Porque sim?!
Por que não?
Porque não.
Por quê?
Porque não pode.
Que por...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Oitenta anos de Vida

Solange Palma Torelli, Renato e Vida Alves


Isso mesmo. Em 15 de abril de 2008, a atriz Vida Alves, protagonista do primeiro beijo na televisão brasileira, completou 80 anos de belas histórias. E uma delas, bem polêmica: a do tal beijo, é claro, dado no galã Walter Foster em 1951 durante as filmagens da primeira telenovela brasileira, Sua Vida me Pertence.

Mas a carreira de Vida Alves não se resume a um beijo (por mais “escandaloso” que tenha sido para a época). Ela escreveu dezenas de novelas e programas para rádio e TV, e atuou em outros tantos, sem contar sua participação no cinema nacional. Também fundou a Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira (APITE) – hoje chamada Pró-TV – e ergueu um museu no bairro do Sumaré, em São Paulo, para preservar a memória da televisão. Seu trabalho mais recente é o livro TV Tupi: Uma Linda História de Amor, lançado no último dia 14 de abril, na tradicional Casa das Rosas, em São Paulo.

Já a festa de aniversário foi um dia depois, no Finesse Buffet, na Pompéia, só para amigos. E, acreditem, também fui convidado, mas não pude comparecer pois tinha aula de pós-graduação para Formação de Escritores. Meus pais, que cultivam uma amizade gostosa com Vida, representaram bem a família.

Ficam aqui os votos de felicidade, saúde, trabalho, amor e muitos livros para essa pessoa querida, que já não freqüenta mais a telinha de casa, mas é presença marcante em minha vida.

Saiba mais sobre o museu da TV no www.museudatv.com.br

terça-feira, 15 de abril de 2008

O nome do blog


A pergunta é inevitável: por que Reverso Inverso?

Primeiramente, porque todas as idéias anteriores para nome foram recusadas – Valendo a Pena, Troca de Idéias, Causando etc. Cada nome pensado era cruelmente rejeitado pelo sistema do blog. Cansado, resolvi apelar para um antigo conceito de numismática (ciência que estuda moedas e medalhas).

Segundo a numismática, os dois lados de uma moeda são anverso (popular cara) e reverso (coroa). Se pegarmos uma moeda de real, por exemplo, e a virarmos verticalmente, tanto anverso quanto reverso estarão de cabeça para cima.

Essa é a regra, só que às vezes a Casa da Moeda cunha peças com defeito, em que o reverso surge debochadamente de cabeça para baixo. A esse defeito é dado o nome de “Reverso Invertido”. Ele é a alegria dos colecionadores. Ao contrário do mundo comum, em que diferenças sofrem discriminação, na numismática elas são valorizadas – até com certo exagero. No último leilão da Sociedade Numismática Brasileira, realizado em março, uma simples moeda de um real teve lance mínimo de cem reais. Nem as ações da Petrobrás têm tamanha valorização. O pior é que uma moedinha dessas já pode ter passado pela sua carteira e foi desperdiçada com cigarro, pão, leite ou chiclete.

Mas voltemos ao blog, que se chama Reverso Inverso – e não "Invertido". O sobrenome foi trocado por alguns motivos. Primeiro, porque deixaria muito numismata frustrado com o blog. Depois, porque já usei o Reverso Invertido como nome da minha antiga banda pop rock, sucesso internacional entre familiares e amigos muito amigos. E inverso, que é sinônimo de invertido, acrescenta outro “verso” ao nome, dando a ele um ar mais poético. As entrelinhas ficam a cargo da imaginação de cada um.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Começo de jornada

Agora vai.

Já não faço mais parte do MSB (Movimento sem Blog). O encontro com mentor e discípulos me estimulou a deixar o mundo comum.

A moeda rodopia no espaço, ainda sem órbita definida. O Reverso Inverso começa uma trajetória experimental, em busca de sua “cara”. Por isso, os assuntos aqui serão variados – cinema, música, umbigo, seriados de TV, fotografia, tatus-bola, quadrinhos, responsabilidade social, astronomia, jujubas, numismática, monstros, lingüística, kimchi, futebol, política, tricô etc.

O portão de entrada para o mundo especial é o curso de pós-graduação em Formação de Escritores da ESDC (Escola Superior de Direito Constitucional), coordenado pelos professores Márcia Olivieri e Gabriel Perissé. São 20 heróis na turma, cada um trilhando sua própria jornada. A minha começa agora.