sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Última Pílula

Não adiantava avisar:

– Cuidado, vó. Desse jeito, a senhora pode quebrar o pescoço.

Ela não ouvia. Separava as pílulas com o prazer de quem distribui dinheiro aos filhos. “Esta é para a memória, esta para a garganta, para o coração, o esôfago, fígado...”. Deixava-as todas enfileiradas, por ordem de localidade corpórea. Acreditava que, quanto mais próximo da boca estivesse o aparelho enfermo, mais rápido o medicamento fazia efeito.

Com tudo preparado, polegar e indicador pinçavam as bolinhas para deitá-las com requinte em língua esplêndida. Uma por vez. Só que o esmero terminava aí. De repente vinha um impulso desproporcional da cabeça, que ricocheteava para trás. O gole curto de água à temperatura ambiente lubrificava a garganta para a pílula seguinte.

– Vó, assim a senhora pode quebrar o pescoço. Não basta engolir?

Ela não escutava – e isso nada tinha a ver com o ouvido direito, quase surdo. “Assim desce mais fácil”, pensava com convicção. E dava um impulso atrás do outro transformando o cérebro num chocalho. Eu ficava de prontidão, sempre temendo pelo pior. Só não imaginava que o desfecho pudesse ser tão trágico.

Foi naquela tarde – para tristeza de filhos, netos e bisnetos – que o ritual das bolinhas se repetiu pela última vez. Após seguidos ricochetes, vovó chegava à pílula derradeira – a para unha encravada. Parece até que já esperava por algo, pois hesitou ao trazer o remédio à boca. Deve ter se lembrado de amores perdidos, de trabalhos não realizados, de viagens nunca feitas. A vida inteira que podia ter sido e que não foi.

A bolinha já estava sobre a língua úmida, quando veio o impulso fatídico. De olhos fechados, vovó jogou a cabeça para trás com tamanha força que ela se desprendeu do pescoço e alçou vôo. Deu três voltas no ar e caiu pesada, ouvido surdo para cima. Sons não importavam mais, e os olhos ainda gritaram por socorro quando viram o corpo sem cabeça pela primeira e última vez. O respiro final jamais oxigenaria o tronco. Tampouco a última pílula atingiria a extremidade do membro mais distante. A unha encravada de vovó estava condenada a doer pela eternidade.

(Frases ou idéias semelhantes a obras já publicadas não são meras coincidências. Este é um exercício de plágio criativo, desenvolvido no Curso para Formação de Escritores)

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Sarau Cultural

É sábado, pessoal! Até lá!!!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Impressão

A conversa se deu hoje, na hora do almoço. Meu irmão chato foi testemunha e me contou. Julguei merecedora de um destaque.

...

Com o cigarro à mão, a morena desabafava com a colega. “É muita pressão na minha vida. Pressão no trabalho, pressão no casamento, pressão na faculdade...”

É verdade, a moça tem razão, e presto minha solidariedade a ela. É muita pressão. Pressão atmosférica, arterial, venosa, osmótica, estática, hidrostática, dinâmica, capilar, de vapor, de degenerescência...

Vivemos marcados sob pressão. Sofremos depressão, opressão, repressão, supressão, compressão, descompressão, contrapressão... O coração petrifica, perdemos a liberdade e a expressão da face.

A desopressão só vem com a morte.

Por isso, moça preciosa e pressionada, não desanime. A vida é mesmo uma panela de pressão.

(texto inexpressivo, disponível para pré-impressão, impressão ou reimpressão, por impressora plana, rotativa, digital ou mesmo comum, daquelas que temos em casa com cartucho recarregável)


quarta-feira, 4 de junho de 2008

Arraiá da Nossa Casa

Galera, a festa junina da ABCD Nossa Casa é no sábado, 7 de junho.
Abraço a todos e até lá!

O quê: Arraiá da Nossa Casa
Quando: 07/06/2008 (sábado)
Horário: das 15h às 21h
Onde: Rua Dr. Paulo Vieira, 246 - Perdizes (perto da estação Vila Madalena)
Para quê: Para se divertir e ajudar as crianças da ABCD Nossa Casa
Entrada: Franca

Para quem quiser conhecer mais sobre a associação e seus projetos educacionais, acesse www.abcdnossacasa.org.br.