A caixinha de lápis de cor foi o presente perfeito para o seu sexto aniversário. Era a ferramenta que Marquinhos precisava para recriar o mundo ao seu jeito.
No dia seguinte, deu início à grande obra, pintando o sol de azul real e o céu de verde. A partir daquele instante, o poente começaria bandeira e terminaria musgo.
Já as nuvens ficaram lilás. E o arco-íris ia do preto ao branco, com tonalidades de cinza pelo interior.
O mar se transformou em amarelo-ouro, com montanhas alaranjadas. A brisa soprava vermelho e as matas rosearam, com rosas e todas as demais flores em verde, para combinarem com o céu.
Ao final do dia, Marquinhos olhou o novo mundo satisfeito. O serviço estava completo e perfeito.
Seu sorriso aumentou ainda mais quando ouviu o bater da porta. Era seu pai, que acabava de chegar do trabalho. Antes que Arnaldo pudesse afrouxar a gravata, Marquinhos pulou em seus braços, ávido por mostrar a obra-prima. O pai perdeu a cor:
– Credo, filho, que horror. Você pintou tudo errado. Benhêêê, temos que levar o menino ao médico. Talvez ele seja daltônico.
Marquinhos murchou.
– Eu só queria fazer diferente, papai.
A decepção do filho sensibilizou Arnaldo. Não precisava ter sido tão duro, pensou. Então se ajoelhou na altura de Marquinhos, pôs as mãos em seus ombros e, com serenidade, explicou:
– Não pode, filho. O mundo é do jeito que é. Não podemos mudá-lo. Entendeu?
Com a cabeça, Marquinhos concordou. Tinha apenas seis anos e já era adulto.
5 comentários:
Gostei do verde em amarelo, do alaranjado em verde-limão, do cinza em cor-de-rosa, do verde em vermelho. Sorte do Marquinhos que sabe fazer isso, mesmo com um pai que não saiba.
Bacana a forma como você mostrou o quanto muitos pais, sem se aperceberem, às vezes deixam a sensiblidade lá fora antes de entrar em casa. Ótimo o seu texto. Adorei o final, "tinha seis anos e já era adulto"... uma pancada, e um alerta!
É o golpe que muitos de nós sofremos quando crianças... como disse Nanete, é o cuidado que temos que ter para não acabar com a imaginação dos nossos pequenos.
Abraço
Oi, Renato.
Adorei o texto. Muito criativo. Um beijo, Clau*
Uma delícia esse texto! As cores, a forma do "murchou", deixam o texto alegre e leve! A mensagem, no entanto, é séria! Lembrei-me do coitadinho do protagonista no Pequeno Príncipe, quando mostra para os adultos o desenho da jibóia e eles lhe devolvem a falta de graça do chapéu. Claro que em meio a tudo isso, você guardou lugar para o bom humor, na forma como narrou a reação do pai, por exemplo. Gostei muito!
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