sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Fim de Fita-Verde


Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas.


Podia ser qualquer dia, mas que nada. Não havia lenhadores, nem polícia civil ou militar. Todos em batalha, nos arredores do palácio, sob olhares esbugalhados de quem devia estar prefeito, mas sonhava com a faixa verde-amarela.

Foi aí que bandidos e lobos tiraram proveito. Antes mesmo de ver vovozinha, a sombra da menina sumiu no pó. Sua fita verde imaginada caiu, e não foi encontrada nunca mais. Igualzinho para sempre, só que tudo ao contrário. Melhor nem contar.

História triste, que cala quem escuta. Nada de que nem e eu então. Só soluço e lágrima.


Baseado em Fita Verde no Cabelo, de Guimarães Rosa
Confira também: Polícia Civil x Militar e quem devia estar prefeito, mas sonha com a faixa verde-amarela
E mais: Tosca Fita

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Mensagem

Vamos, moribundo, não temos muito tempo. Levanta logo da cama. Tem lápis e papel no criado-mudo. Escreve exatamente o que eu disser. Isso, velho, segura firme. Vou ditar. Está pronto? Muito bem, anota aí.



... morrer! O que foi, velho imbecil? Parou de anotar por quê? Escreve logo, MORRER. Tem medo? Que diferença faz? Tá nas últimas mesmo... Já sei, preocupado com os netos, que nunca vão crescer. Que idiota, veja o lado positivo; pode reencontrá-los mais cedo do que imaginava. Aliás, sua mãe, aquela vagabunda, já tá te esperando... Velho improdutivo e acomodado, acha mesmo que sua vida valeu a pena? Vai, faz algo útil, escreve: MORRER.



... velho cretino! Apague essa droga... Vê agora se faz direito. Continue.



... uma...... o quê? Idiota, ainda não, acorda! Vamos, acorda! Droga, desencarnou. Vou precisar de outro imbecil. Ei, velho, tá indo pro lado errado. Volta aqui, cretino. Teu lugar agora é comigo.